O PROJETO COLETIVANDO
Compartilhar conhecimentos, projetos, práticas, experiências, incentivar a ciência produzida na universidade... tornar o saber coletivo. Nosso projeto busca ser mais uma semente plantada para que tudo isso se torne possível. E assim nasce o "Coletivando - o conhecimento muito além de aula". A TV UNITAU, em parceria com o Canal Futura, aceitou o desafio e produziu uma série com dez documentários, que serão exibidos nacionalmente, remontando projetos de conclusão de curso no Programa de Mestrado em Linguística Aplicada da Universidade de Taubaté (Unitau).
Nossa ideia foi apresentada ao Canal Futura durante o encontro das Universidade Parceiras do canal em maio de 2014. Sentíamos que muitas pesquisas desenvolvidas dentro da universidade ficavam restritas ao âmbito acadêmico. Muitas, sem atingir à realidade dos profissionais e estudiosos da mesma área. Queríamos retirar a riqueza das produções acadêmicas dos nossos arquivos e bibliotecas para publicá-las, e o espaço aberto pelo Canal Futura apareceu como a oportunidade mais que adequada para falarmos de educação.
Os dez projetos selecionados para participar dos documentários têm como foco principal de atuação o letramento, dentro e fora da sala de aula. São ideias que partem do aprimoramento de experiências com alfabetização nos anos iniciais do ensino fundamental até a formação continuada de professores e pais leitores. Os ex-alunos (agora mestres em Linguística Aplicada) conduzem os relatos dos projetos que desenvolveram e, em treze minutos de vídeo, que relatam suas motivações, dificuldades e reflexões advindas com as pesquisas que necessariamente culminaram na produção das respectivas dissertações que disponibilizamos para download por meio dos links postados ao final de cada uma das próximas páginas.
Experimentação, diálogo, incentivo, interesse, participação, mudanças, possibilidades, resultados e comprovações estão presentes em todos os relatos que resgatamos com os pesquisadores. Além disso, todo o conceito, teoria e metodologia de pesquisa também serão disponibilizados aqui, por meio do download das dissertações de cada projeto. Os documentários serão exibidos pelo Canal Futura, a partir do dia 06 de julho, no programa Sala de Notícias, sempre a partir das 14h30 com reprises às 20h45. À medida que forem ao ar na televisão, o link do material será postado nesta plataforma.
As iniciativas receberam elogios de especialistas reconhecidos pelas contribuições de suas obras para a educação infanto-juvenil que foram convidados a participar das gravações.
Mauricio de Sousa - escritor e cartunista
"A leitura é um dos mais importantes exercícios intelectuais que nada pode substituí-lo. Devemos fazer de tudo para que as crianças possam ler cada vez mais e melhor."
Pedro Bandeira - escritor
"Essas professoras estão criando leitores. Quando forem adultos, talvez introduzam seus filhos no mundo do conhecimento e leitura o mais cedo possível. Bem antes da escola."
O CAMINHO PERCORRIDO
Ao longo de nove meses de produção, a equipe da TV UNITAU visitou sete cidades nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, percorrendo mais de 1900 quilômetros. Os desafios e a realidade da educação nas redes pública e privada de ensino renderam 50 horas de material gravado, 259 autorizações de imagem e depoimentos de 70 entrevistados.
A TV UNITAU
Nossa história começa em 2007. Produzimos conteúdos com informações da vida acadêmica e universitária. Falamos sobre cultura, educação, saúde, política, economia, com prestação de serviços à comunidade.
Nossa equipe conta com profissionais de comunicação, estagiários e professores dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Universidade de Taubaté.
A cooperação com o canal mantido pela Fundação Roberto Marinho no Rio de Janeiro começa em junho de 2013, por meio do programa Universidades Parceiras do Canal Futura, permitindo o intercâmbio de experiências e projetos que vão além das produções específicas de conteúdos para a programação jornalística e de variedades. Durante os dois anos de parceria, a TV UNITAU produziu reportagens e viabilizou participações especiais de docentes da Universidade de Taubaté em programas do Canal Futura.
A TV UNITAU também trabalha para a formação dos alunos dos cursos em comunicação social oferecidos pela universidade. Servimos como um grande laboratório para novas ideias e projetos em ensino, pesquisa e extensão. Nossas produções estão disponíveis em nossos perfis nas redes sociais. Clique aqui para nos conhecer melhor.
Ao mesmo tempo em que escutam e leem as histórias contadas pela professora, 33 alunos de uma turma do primeiro ano do ensino fundamental desenvolvem uma habilidade inédita para muitos deles: a escrita.
E por que não começar a desbravar o mundo da leitura com histórias feitas especialmente para crianças ? Ao responder a essa pergunta, Adalgisa Saltosque escolheu trabalhar com o gênero "conto infantil" no processo de alfabetização, valorizando a oralidade e a escrita das crianças da Escola Municipal Sebastiana Cobra em São José dos Campos-SP.
Escola Municipal Sebastiana Cobra - São José dos Campos/SP
De fevereiro até novembro de 2012, as crianças foram incentivadas a reconstruir vários contos infantis. Porém, algumas delas ainda estavam na chamada fase pré-silábica ou silábica sem valor - quando usam letras que não condizem com o som das palavras.
Adalgisa Saltosque - mestre em Linguística Aplicada pela Universidade de Taubaté
"Eles oralizam informações que não nem imaginamos. A escrita coletiva propicia a valorização de todos os conhecimentos que já adquiriram, tendo ou não cursado educação infantil." - Adalgisa Saltosque.
Essa fase é considerada essencial para desenvolver a escrita e a leitura, porque é durante os primeiros anos da vida escolar que a criança começa a unir o universo de significados baseados na subjetividade ao mundo da escrita. Ela ultrapassa os limites dos símbolos assimilados durante as brincadeiras de roda, as cantigas de ninar, as histórias infantis e se torna capaz de lidar com signos convencionados e impostos pela cultura.
Para conseguir envolver as crianças, Adalgisa passa a valorizar a capacidade delas de se expressarem oralmente. Em sala, ela buscou ler e reconstruir os contos infantis chamando os alunos a participarem da escrita da história no quadro. Assim ela buscou desenvolver uma didática própria para dar mais eficiência à aprendizagem.
A escrita dos contos infantis foi realizada de duas a três vezes por semana no primeiro semestre para fazer os alunos lerem logo nos primeiros meses. Posteriormente, as atividades se tornaram menos frequentes, ao mesmo tempo em que outras tinham que ser aplicadas conforme a programação pedagógica.
Também foi preciso modificar o cronograma da disciplina, até porque o conto infantil estava previsto apenas para o segundo semestre. Ainda faltava informar os pais e convencê-los da novidade. Eles aceitaram e tomaram para si o desafio de incentivar a leitura e as lições em casa.
Rejane Vasconcelos e a filha Beatriz
"Ela era um pouco mais quieta. Com o tempo chegava em casa querendo contar as historinhas e ficou mais falante só depois da primeira série"- Rejane Vasconcelos
Segundo a professora Adriana Cintra, do Programa de Mestrado em Linguística Aplicada da Unitau, com a escrita coletiva, os professores conseguem driblar as dificuldades que as crianças, em processo de alfabetização, enfrentam quando tentam recontar e escrever histórias a partir das próprias interpretações.
Adriana Cintra participou da banca examinadora da dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Linguística Aplicada da Universidade de Taubaté
"Com a escrita coletiva a criança pode soltar a imaginação e criar um texto mais rico porque tem um escriba para escrever por ela" - Adriana Cintra
RESULTADOS
Os resultados são inquestionáveis. Dos 33 alunos, apenas um terminou o ano sem ler e escrever contos. Mas houve progresso, pois, mesmo apresentando bloqueios iniciais com a fala (até o pedido para ir ao banheiro era feito com gestos), ele terminou o ano falando mais e com a comunicação oral menos retraída. Segundo Adalgisa, o objetivo de capacitar as crianças a ler já no primeiro semestre foi alcançado.
Na conclusão de sua dissertação, ela apresenta as considerações sobre os avanços dos alunos durante o ano letivo, além de fazer apontamentos para a construção de uma didática mais adequada ao trabalho com a escrita coletiva de conto infantil. Há também dicas para os colegas de profissão como nos exemplos que ela cita neste vídeo.
Para que as modificações e as novidades fossem implantadas, o projeto contou com o envolvimento da equipe de profissionais. A coordenação e a direção cederam os espaços e horários dentro da grade curricular para realizar as atividades extras que modificaram a rotina da escola. Pais e familiares de alunos concordaram em colaborar e buscaram compreender como a escrita coletiva seria trabalhada. Já os alunos terminaram o ano com sonhando com algo a mais para o próprio futuro.
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Como o desempenho do oitavo ano do ensino fundamental nas habilidades de leitura estava abaixo dos níveis satisfatórios, Silvia sentiu que precisava de mudanças e decidiu criar uma didática diferente para desenvolver mais a interpretação de diferentes gêneros textuais entre seus alunos. O principal objetivo era melhorar as notas obtidas em avaliações internas, além de atingir índices mais altos na prova do Saresp - aplicada anualmente pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo para avaliar o rendimento escolar na rede pública estadual.
Não houve segredo ou tampouco fórmula mágica. Houve apenas trabalho, muito trabalho. Em sala ela intensificou a aplicação de exercícios dos seguintes gêneros discursivos: tira, crônica, fábula, memórias literárias e textos de propagandas. Todos os materiais foram coletados dos livros pedagógicos do arquivo da biblioteca da escola e outras fontes como jornais, revistas e internet.
A leitura e a interpretação devem ser feitas em conjunto antes da apresentação para o restante da turma
Os resultados das avaliações aplicadas demonstravam que parte dos alunos ainda enfrentava dificuldades com leituras de textos não verbais e propagandas, entre outras insuficiências que já deveriam estar sanadas nessa etapa da vida escolar. Muitos não identificavam sequer o público alvo. Começava, então, o desafio de encontrar a melhor didática de ensino para ajudar os alunos a superar as dificuldades com a leitura. Silvia apresentou sua proposta e seu objetivo para serem desenvolvidos como projeto de conclusão de curso no Programa de Mestrado em Linguística Aplicada da Universidade de Taubaté (Unitau).
Depois das primeiras orientações, surgiu a sugestão de trabalhar com sequências didáticas de leitura pré-estabelecidas que facilitariam a abordagem de diferentes gêneros de textos em sala de aula. Ao colocar as ideias em prática, a pesquisadora percebeu que deveria mudar, inclusive, a dinâmica com que estava acostumada. Não bastava a leitura e interpretação de apenas uma tirinha ou uma propaganda, o exercício deveria ser repetido várias vezes.
PASSO A PASSO
As atividades foram organizadas em quatro procedimentos. Elas começaram com aulas expositivas para explicar estruturas e as diferenças de cada gênero textual que seria objeto de estudo durante o ano letivo. O foco principal estava nas tiras, charges e cartoons. Sem esse primeiro passo não seria possível avançar paras as etapas posteriores.
"Quando você leva sessenta tiras da Mafalda e trabalha com todas, no final percebe que o aluno realmente aprendeu e já sabe todas as características e propósitos." - Silvia Lima
Em seguida foram fornecidas cópias dos textos a fim de desenvolver os objetivos de leitura. Por exemplo: numa charge os alunos teriam que identificar os motivos do riso e as informações implícitas e explícitas da mesma forma como são cobradas nas avaliações. Essas eram as maiores dificuldades que prejudicavam o desempenho dos estudantes.
O terceiro passo buscou desenvolver a leitura de detalhes dos textos. Eles foram convidados a refletir e responder às questões propostas pelo professor. No quarto e último momento, todos apresentaram posicionamentos críticos em relação aos assuntos abordados, relacionando-os com temas atuais na sociedade.
Durante a pesquisa, o principal desafio foi fazer o aluno tomar gosto pela leitura. Enquanto uma charge chamava mais atenção, por conter menos texto, a apresentação de uma reportagem exigia, por parte da professora, uma discussão mais ampla para conseguir despertar o interesse dos estudantes pelo tema.
TRANSFORMAR OS ALUNOS
Mais do que ensinar e capacitar estudantes para atingirem índices melhores nas avaliações, o projeto desenvolvido por Silvia também consegue fornecer mais elementos para que os jovens possam compreender os acontecimentos da realidade que os cercam. Essa é uma opinião compartilhada entre dois especialistas que foram convidados a contribuir neste documentário: a professora Doutora em Educação Elisabete Ramos da Silva e o escritor Mauricio de Sousa.
A iniciativa da professora também teve avaliação positiva dos alunos. Muitos passaram a enxergar nas charges, tirinhas e cartoons a base para a leitura e compreensão de textos mais complexos. A coordenadora pedagógica da escola Jaques Félix, Ana Maria Ferreira Machado, destaca que o ensino de Língua Portuguesa está necessariamente interligado a todas as outras disciplinas. Durante as aulas de matemática, os alunos passaram a frequentar a Sala de Leitura em busca de livros e textos capazes de contribuir com o aprendizado.
Ana Maria Ferreira Machado - Coordenadora Pedagógica da Escola Jaques Félix
" Nós percebemos a diferença no aumento de alunos que melhoraram de nota do primeiro bimestre para o segundo. Foi um trabalho que elevou a autoestima deles." - Ana Maria Machado
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Durante o mestrado em Linguística Aplicada da Universidade de Taubaté (Unitau), Erika decidiu abordar, em sua pesquisa, as dificuldades dos alunos com a leitura dos gêneros textuais mais cobrados em exames de avaliação do desempenho - Enem, Saresp e Prova Brasil. Ela levou para o ensino médio da Escola Municipal Miquelina Cartolano de Lorena-SP várias tirinhas, artigos de opinião, editoriais e uma coletânea de crônicas.
Cerca de 40 estudantes participaram das atividades. Erika conta que no início, quando apresentou a proposta aos adolescentes, sentiu certa resistência. "Ah! Professora, vou ter que ler tudo isso?" Perguntavam. Pela frente eles teriam nove meses de leituras, tarefas e debates.
A resistência foi sendo vencida à medida que os alunos se tornavam capazes de compreender os textos
Além de derrubar o mito de que os alunos não têm gosto pela leitura e aprofundar a compreensão dos gêneros textuais, outra meta seria perseguida: melhorar as notas obtidas nas provas aplicadas para verificar o rendimento dos estudantes, tanto pela Secretaria de Educação do Estado quanto pela própria escola.
Para fazer os textos e temas escolhidos caírem no gosto dos alunos, Erika optou por usar temas e tiras de personagens considerados polêmicos. Com tempo, sentiu que todos ainda precisavam adquirir maior domínio sobre conteúdos que proporcionassem maior compreensão de temas da atualidade. Também não bastava apenas cobrar a leitura. Afinal, "passar o olho em um tirinha é muito pouco para que o aluno seja capaz de entender o humor".
QUATRO MOMENTOS DE LEITURA
A metodologia aplicada pela professora Erika apostou na criação de objetivos de leituras a partir de uma sequência didática desenvolvida pelo projeto Observatório da Educação, lançado pelo Ministério da Educação e adotado pela Unitau, do qual participam outros professores e alunos do curso de graduação em Letras e mestrandos em Linguística Aplicada. O enfoque está no aprimoramento de habilidades de leitura em sala de aula.
Prof. Drª Maria Aparecida Garcia Lopes Rossi - Programa de Mestrado em Linguística Aplicada da Universidade de Taubaté
"É preciso um professor que conheça o que está fazendo e que proponha um trabalho bem organizado" - Maria Aparecida Rossi.
São basicamente quatro procedimentos antes de evoluir para outras tarefas em sala de aula. Toda a dinâmica é dividida em quatro momentos que podem ser aplicados a todos os gêneros textuais com poucas adaptações.
O primeiro consiste no levantamento do conhecimento prévio dos alunos sobre o gênero que será estudado com uma rápida conversa, em que analisam as principais características e condições de produção e circulação daquele texto. Em seguida é preciso definir objetivos de leitura. No caso de um artigo de opinião, há a identificação das ideias do autor e os principais argumentos comentados por professores e alunos. Depois vem o momento de refletir sobre as características dos gêneros para, enfim, apresentarem posicionamentos críticos e dialógicos com a realidade da época em que foram escritos e do mundo contemporâneo.
Erika trabalhou dezesseis crônicas em sala de aula
"Eles traziam experiências de casa em relação ao que trabalhavam na crônica. Uma delas falava da avó e da falta que o cronista sentia dela. Alguns se emocionaram ao falar da própria avó." - Erika de Souza
ALUNOS MOTIVADOS
À medida que as atividades eram aplicadas, os alunos evoluíam a capacidade de compreensão dos textos. Se antes poucos conseguiam apresentar opiniões bem fundamentadas e articuladas, com o tempo todos passaram a construir argumentos com base nas próprias reflexões. Para atingir esse nível, Erika buscou incentivá-los a procurar pela leitura mais prazerosa e condizente com seus perfis.
Depois da primeira avaliação em abril, o resultado não foi considerado satisfatório. Mas em agosto, quando uma nova avaliação foi aplicada, as notas tiveram melhoras significativas.
No segundo semestre, Erika percebeu certo desânimo, mas considerou normal por estarem no final do ano letivo. Nessa época entrou em cena o artigo de opinião, com textos mais longos, requerendo ainda mais atenção. Mas o trabalho, que no início deixou até a própria pesquisadora receosa de não conseguir a adesão necessária, no final motivou professores e alunos.
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Muitas crianças ainda não tinham superado as etapas para alcançar mais proficiência na leitura e, por isso, tampouco conseguiam bom desempenho em outras disciplinas que àquela altura da vida escolar exigiam mais desenvoltura para cumprir as atividades em sala de aula. Consequências semelhantes às observadas em outras escolas com turmas de recuperação de ciclo básico. A escolha para trabalhar com esse grupo não foi à toa.
Silvana queria proporcionar outras chances para as crianças se recuperarem em todas as habilidades que já deveriam estar desenvolvidas no quarto ano do ensino fundamental. Com objetivos ainda maiores, a pesquisa também se direcionava pela elevação da autoestima das crianças reprovadas que acabaram reunidas em uma mesma turma. Alguns eram discriminados dentro da própria escola e entre os próprios coleguinhas de classe, ou eram muito tolhidos na capacidade de comunicação e, segundo a professora, "muito rebeldes". Mas todos com dificuldades de aprendizagem em comum que nunca foram sanadas.
"A ideia surgiu quando eu ainda estava fazendo as pesquisas teóricas sobre gêneros textuais. Percebi durante as atividades na Sala de Leitura que eles não tinham voz e eram discriminados por ser a turma da recuperação de ciclo". - Silvana de Vitta
O reforço com a leitura e escrita de poemas visava a cumprir outro objetivo não menos importante: fazer com que as crianças também conseguissem se apropriar das características e qualidades dos textos. O poema infantil assumiu, então, o protagonismo. A professora conta que escolheu o gênero porque observou ao longo do tempo que os alunos têm mais interesses por elementos textuais como a rima, as estrofes e as histórias com humor.
Alguns pontos foram fundamentais para que a pesquisa fosse levada adiante. O primeiro deles era o apoio e colaboração da equipe gestora da escola, que apoiou a ideia e contribuiu para que o projeto ocorresse de acordo com o planejado.
No entanto, Silvana não era a professora titular da classe e as crianças não a conheciam bem. Fato que se tornou mais um obstáculo para a tarefa. Antes de propor a pesquisa, houve apenas encontros esporádicos com a turma, e , a partir daquele momento, as reuniões seriam semanais na sala de leitura da escola.
Prof. Silvana de Vitta Martins - mestre em Linguística Aplicada pela Universidade de Taubaté
"A conquista da confiança deles foi meu maior desafio. No começo eram mais arredios. Deu um pouco de trabalho, mas aos poucos eu consegui. Contei com a ajuda da escola e a parceria com a professora da turma." - Silvana de Vitta
Pela frente seriam meses de trabalho ainda insuficientes para dar conta de todas as necessidades de aprendizagem dos alunos em recuperação, de acordo com a professora. Até porque as deficiências se tornavam progressivas, isto é, uma deficiência levava a outra, além de acentuarem a exclusão linguística e social no ambiente escolar. Por isso, antes de mais nada, seria preciso elaborar um bom planejamento e garantir sua execução.
O PROCESSO DE LEITURA
Vigotsky, Bakhtin, Bronckart, Dolz e Schneuwly são os autores que compõem a base teórica da pesquisa porque adotam as perspectivas do sócio-interacionismo, do interacionismo sócio-discursivo e dos gêneros discursivos.
Basicamente, a estratégia usada por Silvana teve como principal direcionamento a atuação do professor na sala de leitura como mero mediador do conhecimento. Assim, ela também trabalhou com sequência didática de leitura de muitos textos, observando junto com os alunos o contexto de circulação, a estrutura, o estilo e produção final da escrita. Dessa maneira, ao final das atividades, os alunos se tornaram mais receptivos a outros gêneros textuais, além de se comunicarem melhor e de se tornarem sujeitos do próprio aprendizado.
A PRODUÇÃO ALÉM DA SALA DE AULA
A última etapa do processo é considerada primordial, desde que a professora começou a trabalhar com a recuperação de ciclo há quase dez anos. Silvana considera extremamente necessário que os textos produzidos pelos alunos não se limitem ao ambiente da sala de aula ou até mesmo aos muros da escola. Com o apoio de patrocinadores, o material passou a ser publicado da mesma forma como circulam na sociedade. A intenção é ganhar o formato de publicações editoriais. Com o tempo o projeto passou a ser aplicado a outras turmas, não apenas no processo de recuperação.
A dinâmica também conseguiu mudar o ambiente escolar. Os relatos dos profissionais envolvidos revelam que aumentou a procura pela sala de leitura na escola. Os alunos passaram a perguntar sobre a chegada de novos livros para poder trocar com os antigos que já tinham lido. E, como já era de se esperar, o desenvolvimento da habilidade de leitura e escrita também favoreceu o ensino de outras disciplinas.
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POESIA
VOZES LEITORAS E PRODUTORAS DE SENTIDO
A aposta feita pela professora de literatura vai na contramão da ideia de que os adolescentes pouco se interessam por textos com linguagem literária, mais bem elaborados por autores clássicos da nossa literatura. Maria Elisa experimentou uma nova didática em suas aulas e derrubou preconceitos ao provar que todos podem acompanhar e compreender as obras de escritores renomados.
Tudo começa com as próprias experiências como professora em turmas de ensino médio e de disciplinas no ensino superior. Os alunos liam pouco. Os professores acabavam se concentrando mais na teoria literária e na cronologia histórica das escolas e seus estilos. O texto em si, que deveria ser o protagonista das aulas, acabava em segundo plano. Maria Elisa acredita que essas ainda são algumas das consequências impostas por uma metodologia de trabalho que tem como principal objetivo a aprovação nos mais concorridos vestibulares do país.
Maria Elisa Brito - mestre em Linguística Aplicada pela Unitau
"No curso de Letras, os alunos tinham preocupação de pesquisadores, mas não sobre como apresentar o texto em sala. Também percebi que os professores ficam reféns do material didático voltado para o vestibular." - Maria Elisa
Com as orientações que recebeu durante o curso de mestrado em Linguística Aplicada da Universidade de Taubaté (Unitau), ela passou a pesquisar mais afundo caminhos alternativos para lecionar literatura no ensino médio e tornar a disciplina mais atrativa. Para isso começou a mapear a imagem feita pelos adolescentes sobre o leitor de textos literários e quais as percepções sobre as linguagens adotadas. Afinal quem é o leitor atual de textos poéticos e literários? As respostas a essa e outras questões levantadas evidenciaram algumas percepções. Entre elas a imagem de um leitor intelectualizado, sensível e, por vezes, associados à homossexualidade.
A partir das constatações, a pesquisa se voltou para a desconstrução desses "mitos" por meio de uma proposta que proporcionasse mais interação de todos durante os momentos de estudos dos textos em sala.
As aulas abriram espaço para a compreensão das leituras a partir das perspectivas apresentadas pelos próprios alunos, evitando que ficassem dependentes das interpretações formatadas dos materiais didáticos e repassadas pelos professores. Assim, ganharam mais voz e autonomia sobre o texto, dentro de uma dinâmica que permitiu diálogo e simetria com o professor e colegas de classe para criar a recriar as interpretações. Maria Elisa trabalhou poemas de Carlos Drummond de Andrade e Augusto dos Anjos com duas turmas de terceiro ano do ensino médio, justamente por estarem no estágio em que o contato com a literatura deveria ser mais aprofundado. O primeiro autor se apresenta em uma época com complicações características da modernidade e, portanto, ainda atuais. O segundo levanta conflitos existenciais comuns ao ser humano do século XXI. Por essas características, os dois foram escolhidos para ajudar na missão da professora.
O projeto deu mais autonomia aos alunos na interpretação dos textos
"Minha pesquisa quer mostrar que o texto literário também existe como espaço de diálogo social. Dentro do texto há um mundo repleto de descobertas." - Maria Elisa
INTERDISCIPLINARIDADE
O poema A flor e a náusea de Carlos Drummond de Andrade facilitou a interação com a disciplina de filosofia. Todos tiveram que entender o contexto sociopolítico de quando foi escrito para interpretá-lo. Como Drummond sofre influência dos filósofos existencialistas, o professor de filosofia, Marcelus André, entrou em ação para apresentar um pouco do pensamento do filósofo Jean-Paul Sartre.
Para Marcelus ainda há uma grande dificuldade em despertar reflexão entre os jovens por meio da poesia. Poucos trazem na bagagem a leitura de poemas desde o ensino fundamental quando o gênero tende a ser menos estudado que o texto em prosa. Para a professora de literatura do Colégio Jardim das Nações em Taubaté-SP, Thais Travassos, o maior desafio está em conciliar o ensino do conteúdo previsto pelo Ministério da Educação com as necessidades dos vestibulares e ainda conseguir despertar a reflexão e o gosto pela literatura.
Maria Elisa encontrou as mesmas dificuldades no início da pesquisa. Mas, com o tempo, as atividades ganharam força. Alunos que não se interessavam por poesia passaram a procurar por esse gênero de texto. Alguns tiveram ideia de fazer um vídeo encenando estrofes de poemas de Augusto dos Anjos.
Como resultado, Maria Elisa conta que mudou a própria prática em sala. Hoje sente-se incomodada se não consegue abrir mais espaço para os alunos se expressarem com as próprias palavras sobre o texto. Segundo ela, agora todos participam mais ativamente do processo de aprendizagem e podem, aos poucos, subir degraus até atingir níveis mais altos de leitura. Ganharam o direito à literatura.
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Graduado em Educação Física, Cristiano se especializou em atividades lúdicas no ambiente escolar antes de ingressar no programa de mestrado. As experiências anteriores e os estudos na Unitau ajudaram trilhar o caminho para a criação de novos instrumentos em auxílio à educação. Aliás, esse é o principal objetivo do projeto.
Filmes e jogos são os dois principais ingredientes de uma mistura que resultou num multi-diálogo entre várias ferramentas pedagógicas tradicionalmente aplicadas em processos de alfabetização e letramento.
Aqui o ponto de partida é a exibição do filme Ponte para Terabítia, baseado no livro de mesmo nome da escritora Katherine Anderson publicado em 1977. A história relata a amizade entre duas crianças que cursam o quinto ano em uma escola da zona rural nos Estados Unidos. No bosque próximo a suas casas as duas criam um reino de fantasias, onde ficam livres para usar e abusar da criatividade.
Depois de assistirem ao filme, os alunos participam de uma rápida conversa sobre o enredo da história para que possam avançar para a próxima tarefa, quando se reúnem para dar sugestões para a construção de um jogo de tabuleiro e trilhas no qual, necessariamente, foram definidas dez etapas. Cada um com tarefas específicas a serem cumpridas.
Cristiano montou um grande tabuleiro confeccionado com tecido EVA
No início, a ideia era trabalhar apenas com a elaboração de atividades lúdicas capazes de auxiliar no processo de alfabetização, mas logo nos primeiros contatos com os estudantes, Cristiano verificou que a dinâmica poderia tomar dimensões maiores. Os Alunos foram convidados a contribuir com sugestões para a criação do jogo que posteriormente deveria contar com a participação de todos. As ideias foram encaminhadas para sua pesquisa no programa de mestrado, onde foram aprimoradas com leituras e sugestões feitas pelos professores para só depois retornar à escola com o "jogo-cinema".
Ao todo foram dez dias de atividades nos mais variados ambientes: pátios, quadras, corredores durante os intervalos, sempre tentando escapar dos limites físicos da sala de aula.
A estrutura montada para o jogo é inspirada na história do filme Ponte para Terabítia. Os alunos assumem o papel de personagens do enredo em alguns momentos, quando, por exemplo, tornam-se soldados para proteger o reino de Terabítia. Ao longo da brincadeira, eles foram divididos em equipes que participaram da competição. A cada fase atingida, as equipes cumpriram tarefas como a leitura e produção de textos que mais tarde foram corrigidos e expostos na escola. Segundo Cristiano, as dinâmicas em que os estudantes são chamados a contribuir tendem a despertar em todos o interesse pelo jogo, e o projeto consegue dar suporte aos professores na interação entre os alunos.
Aqui o foco estava no ensino da língua portuguesa no ensino fundamental, mas a mesma didática pedagógica também pode ser usada para a docência em outras disciplinas. Basta apostar na inserção dos conteúdos em atividades lúdicas, dentro de um contexto que os envolva na construção de uma proposta de aprendizagem.
Cristiano Marcelo Moura - mestre em Linguística Aplicada pela Universidade de Taubaté
"Precisamos pensar formas para estimular o ambiente escolar. Porém precisamos de maior tempo para desenvolver projetos pedagógicos nas escolas que envolvam mais disciplinas e professores" - Cristiano Moura
Cristiano optou pelo jogo por acreditar que incentivaria a produção textual e a expressão oral dos estudantes. No final ainda despertou o interesse pela leitura do livro que inspirou o filme.
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As atividades levaram os pais para dentro da escola Aurora Paes da Costa em Caçapava-SP. Todas já estavam em prática, porém, foram aprimoradas para a formação de uma comunidade de pais com o projeto de conclusão do mestrado em 2011. Glaucia sentiu que para despertar o gosto pela leitura nas crianças em leitores também seria necessário ensinar os adultos a entender literatura infantil.
A pesquisadora partiu do princípio de que a responsabilidade pela educação não recai apenas sobre a escola. Também é das famílias, que convivem com as crianças a maior parte do tempo em que estão fora do ambiente escolar. A escola, portanto, atua como impulsionadora de forma complementar de um processo de educação que começa em casa.
Glaucia começou a trabalhar os encontros com os pais oito anos atrás. No início os temas abordados tinham foco na educação infantil e na própria dinâmica de trabalho dos professores. As reuniões eram frequentadas por pais, tios e avós onde queriam saber mais sobre como impor limites às crianças e como lidar com assuntos polêmicos apresentados pela mídia, relacionados às drogas e à sexualidade. Os debates se davam em torno de textos, vídeos e palestras oferecidas por especialistas de diversas áreas. Contudo, dificilmente a leitura em casa aparecia como motivo de preocupação.
Os pais apreciam leem juntos os contos de fadas
Depois de experiências com projetos semelhantes de incentivo à leitura, surgiram problemas que passaram a atrapalhar a iniciativa. Os professores se queixavam que os livros emprestados voltavam rasgados, rabiscados e até faltando páginas. Houve pais que alegaram falta de tempo para essa atividade com os filhos e, por isso, pediram que a escola parasse de enviar livros.
Glaucia Cristina Scarpel - mestre em Linguística Aplicada pela Universidade de Taubaté
"Apenas a mãe participava. Muitas viam como uma tarefa, uma obrigação a mais em casa. A atividade não estava cumprindo o seu papel. Percebi que seria preciso abrir a escola para dialogar com os pais." - Glaucia Scarpel
Glaucia conta que pensou em apenas oferecer o livro, mas logo percebeu que não seria suficiente, pois, também teria que ensinar os pais a reproduzir as histórias infantis. A partir desse impasse, criou uma metodologia com o cronograma de tudo que seria feito durante as reuniões semanais que também seria aproveitado como o escopo para observações e análises da pesquisa do mestrado.
A METODOLOGIA
Durante as reuniões da coordenação pedagógica os professores sempre levantaram dúvidas sobre como poderiam superar uma grande dificuldade de envolver os pais nos projetos de leitura para reforçar o processo de alfabetização. A primeira tarefa foi encontrar os parâmetros mais adequados às atividades de leitura para depois oferecer um acervo com obras de qualidade.
A disposição física dos livros durante as reuniões deveria favorecer a apreciação pelos participantes para em seguida escolher entre que julgassem mais interessantes, além de facilitar os primeiros contatos com a diversidade de temas e estilos presentes na literatura infantil. Glaucia montou, então, um espaço denominado de Mar de Histórias. É uma metáfora que ajuda a compreender a variedade de conteúdos em exposição. Pense na ideia de que os navegantes do mar nunca encontram as mesmas águas correndo na imensidão dos oceanos. Se num dia as águas estão revoltas, no outro podem estar mais calmas. Poesias, contos de fadas, álbuns e imagens ficam expostos no mesmo ambiente em que cerca de vinte e cinco pessoas - pais, mães, avós e outros familiares - frequentam as reuniões. Do Mar de histórias eles retiram os livros.
Na semana seguinte, todos voltavam com os mesmos livros para relatar as experiências que tiveram com os filhos na Roda de Apreciação. Debatiam sobre a leitura, os pontos mais fascinantes, as dificuldades e as facilidades encontradas. Resumindo: trocavam impressões. Segundo Glaucia, no começo poucos se pronunciavam. Apenas diziam se tinham gostado ou não. Mas, com o tempo, passaram a levantar reflexões sobre a composição gráfica dos livros, os autores, as ilustrações, evidenciando trechos das histórias em um processo de troca e ampliação de sentidos.
Glaucia usou vários recursos: músicas, histórias narradas, imagens, vídeos. Toda a inteiração transcorre com sua mediação. Assim, os pais aprendem a diferença entre ler e contar histórias e quais livros são mais adequados para a alfabetização.
Há também a Roda de Versos. O momento serviu para resgatar a tradição da poesia nas cantigas de roda populares e tornar a leitura de poemas mais prazerosa.
Segundo Vera Batalha, professora do Programa de Mestrado em Linguística Aplicada da Unitau, a literatura infantil insere a criança no mundo a partir do momento em que permite a transfiguração da realidade de forma lúdica. O contato com as histórias também traz novas experiências de vida.
Apenas depois de 300 anos do descobrimento, o Brasil começa a caminhar em direção ao letramento no século XVII quando o Rio de Janeiro se torna a sede da monarquia portuguesa. Por volta dos anos 1840 foram dados os primeiros passos para a difusão da leitura com a inauguração de livrarias e bibliotecas na cidade. Para Vera, os encontros têm o privilégio de criar o espaço adequado para a formação de leitores numa sociedade construída por gerações e gerações para as quais o hábito de leitura foi negligenciado.
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O Facebook serviu como plataforma incentivadora e motivadora no processo de ensino e aprendizagem. Mas, para que as relações habituais dessa rede social se transformassem a ponto de servirem para uma proposta de educação, antes, era preciso ter uma metodologia de trabalho.
A ideia começou a ser construída com os próprios alunos. Alessandra percebeu que durante todas as tentativas de trabalhar com a leitura tradicional de textos em sala, muitos nem se interessavam e tampouco colaboravam com a menor participação. Resumindo: não havia interesse, qualquer que fosse o texto apresentado. Porém, durante os intervalos e os momentos de maior descontração, os mesmos estudantes ficavam interessados pelos conteúdos compartilhados no Facebook. O problema não estava no desinteresse pela leitura, mas na forma como os textos eram apresentados e as possibilidades de interação abertas a partir desse momento.
Logo, o questionamento parecia óbvio. Por que não transportar o conteúdo para o ambiente virtual ? Ela começou então com a apresentação da ideia para duas turmas - uma de sexto e outro de oitavo ano - da escola Estadual Ismênia Monteiro de Oliveira, em Pindamonhangaba-SP. A proposta foi aceita e teve o apoio da coordenação e a direção da escola ofereceram todo o apoio necessário. Mas, antes de começar, era preciso acertar detalhes e superar algumas barreiras iniciais: alguns alunos, apesar de demonstrar interesse em participar, não tinham acesso a computadores e à internet em casa. Para resolver esse impasse, a direção da escola abriu as portas da sala de informática. Outro porém é que a professora não dominava o uso do Facebook. Para contornar essa barreira, ela teve que aprender mais sobre a rede social e para isso contou com a ajuda dos alunos que já conheciam melhor a plataforma. Depois chegou a hora de apresentar como funcionaria e dar início ao projeto.
Alessandra Ronconi - mestre em Linguística Aplicada pela Universidade de Taubaté
"Na aula inaugural quem apresentou a rede social aos que não a conheciam ou não tinham perfil foi uma das alunas." - Alessandra Ronconi
A proposta partia da leitura de textos até chegar aos exercícios que seriam postados em comunidades criadas no Facebook. A princípio, a professora explicaria as atividades em sala para, logo em seguida, transportá-las para o ambiente virtual, onde todos teriam o prazo de uma semana para cumprir as tarefas que seriam corrigidas no primeiro encontro da semana seguinte. Mas, com o tempo e com as dúvidas que foram surgindo, alguns alunos pediram por aulas presenciais que pudessem complementar o conteúdo trabalhado na rede social.
DIDÁTICA E PARCERIA COM OS ALUNOS
Nesse projeto, como em outros apresentados no curso de mestrado em Linguística aplicada da Unitau, a pesquisadora se baseou nas sequências didáticas para a leitura. Porém, aqui a professora Alessandra preferiu inserir a hipertextualidade da internet.
Participaram crianças entre 10 e 13 anos de idade. Para Alessandra a geração com essa faixa etária nasce pronta para usar o ambiente digital, incluindo as habilidades necessárias para entender a linguagem e as ferramentas das tecnologias de comunicação digitais. Mas antes é preciso envolver aquelas que tiveram pouco contato com a rede mundial de computadores. E o esforço vai ainda mais além. Alessandra contou que precisou deixar claro que o projeto não era dela apenas, mas de todos que participaram, ou seja, os alunos se identificaram e se tornaram parceiros.
Todos entenderam que se tratava de um trabalho para aprimorar o uso correto o idioma de acordo com as normas cultas da Língua Portuguesa. Portanto, não usaram o "internetês" - linguagem comum em ambientes de relacionamento virtual em que há a introdução de neologismos e abreviações de palavras. Também aprenderam a escapar do "recorta e cola" dos conteúdos disponíveis na internet. Eles tinham que responder com base no conhecimento adquirido e com as próprias palavras.
APOIO DA ESCOLA
Segundo Alessandra, nada teria sido possível não fosse o apoio que recebeu da equipe gestora da escola. As necessidades foram prontamente atendidas. Ganharam uma sala de informática, com aluno-monitor e um técnico em informática. A resposta rápida e positiva da gestão ao aceitar o trabalho ajudou os alunos a compreenderem o ambiente escolar como um espaço centrado no aprendizado e no desenvolvimento de suas habilidades e ainda a contar com o apoio dos pais e outros professores.
Como resultados, a professora colheu a participação e o envolvimentos dos alunos, e o consequente desenvolvimento da capacidade leitora de todos. Agora, estudantes de outras turmas também se interessaram e, por isso, professores de outras disciplinas também estão desenvolvendo projetos semelhantes. No início do primeiro semestre de 2015, o professor de Geografia , Gilcinei Candido , propôs um projeto em que os alunos de duas turmas de sexto e sétimo anos do ensino fundamental têm que preencher perfis criados também no Facebook, correspondentes a cidades, estados e países do mundo inteiro. Dessa maneira, eles precisam pesquisar informações específicas sobre cada local previamente estudado durante as aulas. Segundo o professor , o crescimento deles tem sido gradativo e, acima de tudo, de inclusão no ambiente virtual das redes sociais.
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Oficina com estudantes de Letras na Associação Educacional Dom Bosco
Depois de 25 anos lecionando Língua Portuguesa, sendo a maior parte no ensino médio, Roselane percebeu que, mesmo entre as turmas dos últimos anos, ainda existiam sérias deficiências na escrita, leitura e compreensão dos gêneros textuais. Os problemas não se relacionavam apenas à capacidade individual de cada aluno, mas também pareciam ser responsabilidade do professor. O "nó da questão" - como ela mesma diz - estava na formação inicial do professores, em muitos casos, insuficiente para a prática docente. É a partir dessa constatação que surge a proposta de discutir a formação do professor e sua capacidade de criação de estratégias de ensino capazes de contribuir para o letramento nos ensinos médio e fundamental.
Algumas barreiras se mostravam evidentes: a pouca flexibilidade do corpo docente que preferia não arriscar ao ampliar os conteúdos dos materiais didáticos, a falta de proatividade na proposição de metodologias e sequências didáticas mais adequadas à realidade escolar e conhecimentos insuficientes dos gêneros textuais.
Roselane Rocha - mestre em Linguística Aplicada pela Unitau
"As pesquisas em Linguística Aplicada também ficam distantes do cotidiano do professor. Eu senti necessidade de buscar um caminho para pensar num procedimento de ensino que possibilite o crescimento profissional do professor" - Roselane Rocha.
Roselane convidou uma turma do último ano do curso de graduação em Letras da Associação Educacional Dom Bosco em Resende-RJ porque os alunos já tinham entrado em contato com diferentes metodologias de ensino e sequenciação de leitura e escrita. Durante seis meses, o grupo se reuniu para analisar o gênero resumo. O passo a passo foi definido com a professora titular da turma e com a coordenação. A ideia era aprofundar aos poucos os estudos sobre o resumo para depois seguir adiante com a abordagem de outros tipos de textos.
Os encontros ganharam o formato de oficinas que permitiram a todos conhecer com mais detalhes a elaboração de um resumo voltado para as necessidades do ambiente acadêmico e escolar. As produções de textos iniciais foram comparadas com os resumos escritos na fase final das oficinas. Segundo Roselane, ficou nítido o salto de qualidade. Depois das oficinas, veio o segundo passo da pesquisa. Os estudantes deveriam construir a própria sequência didática que seria hipoteticamente aplicada em sala. Assim, passaram da experimentação para a proposição de uma atividade semelhante voltada para o ensino fundamental. Em seguida, a pesquisadora avaliou toda a evolução dos alunos para apresentar os resultados na dissertação de conclusão no mestrado.
FORMAÇÃO CONTINUADA
O projeto da Roselane parte de uma premissa: a graduação é apenas mais um degrau na formação do professor que começa ainda nos anos inciais da vida escolar. Padrões e conceitos adquiridos ao longo do tempo tendem a se repetir até mesmo depois da graduação, no ensino superior.
Para romper a tendência, Roselane aposta na reflexão sobre a formação inicial e continuada do professor, buscando sempre analisar de forma mais profunda as técnicas de ensino que desenvolvem o letramento dos alunos em todas as etapas da formação. Tarefa nada fácil. A maior dificuldade durante a pesquisa foi conseguir romper as barreiras impostas por conceitos cristalizados no momento em que o aluno se coloca como professor. No documentário, ela defende que para a educação avançar ainda mais nesse caminho é preciso colocar o professor como protagonista e construtor da sua prática docente e fazer com que as pesquisas desenvolvidas com esse objetivo cheguem com mais eficácia às salas de aula.
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A pesquisa apresentada por esse documentário, mostra a transformação dos encontros depois que foram valorizados como verdadeiros espaços de aprendizado e troca de experiências na escola Isis de Castro de Mello Cesar em Pindamonhangaba-SP. Sob o título de Aula de Trabalho Pedagógico Coletivo - na sigla ATPC - as reuniões congregam, semanalmente, professores e coordenadores pedagógicos das escolas estaduais de Estado de São Paulo. São de presença obrigatória e constam da carga horária da categoria na rede pública.
Porém nem sempre são valorizadas de acordo com as orientações da Secretaria de Educação. Alessandra tentou buscar soluções para mudar essa realidade comum em várias escolas da rede, incluindo onde exercia a função de coordenadora pedagógica. Ela queria levar a experiência produtiva que teve durante encontros com o mesmo propósito quando trabalhava como professora na rede particular.
Alessandra Mara dos Santos - mestre em Linguística Aplicada pela Universidade de Taubaté
"Na rede estadual eu percebia que esses eram momentos estanques e pouco coletivos. Acredito que a escola deva servir também como um ambiente de formação continuada" - Alessandra Mara
Depois de dois anos como coordenadora, Alessandra percebeu que na maior parte do tempo, as reuniões de ATPC serviam para a execução de tarefas burocráticas e pautas extensas de recados, com pouca reflexão sobre a educação e a prática docente. Havia espaço para a formação continuada, porém as atividades eram curtas e fragmentadas durante o ano letivo.
A ideia então seria sistematizar uma nova maneira de conduzir e fomentar os momentos dedicados à formação do professor. Mas de que forma ? Trabalhando textos que possibilitassem mais reflexões, debates, troca de ideias, experiências e propostas para a inovação da didática de ensino. A pesquisa começou com a elaboração de uma proposta de trabalho, apresentada logo em seguida aos doze profissionais envolvidos.
No primeiro momento, houve ansiedade por não saber se a ideia seria bem aceita. Afinal acarretaria em mais tarefas e responsabilidades. Mas,no final, todos aceitaram colaborar Alessandra. O projeto se desenrolou da seguinte maneira: os professores respondiam todas as semanas a questionários cujas respostas mapeavam as atividades em sala, a partir do tema debatido na reunião da semana. Todas as informações recolhidas serviram como base para a pesquisa.
Ao todo participaram 12 professores de todas as disciplinas, com ampla diferença de idade: de 23 a 56 anos, com formações e vivências bem distintas. No início, houve um pouco de resistência à medida que o projeto propunha mudanças no cotidiano dos professores. Durante um ano e meio de trabalho, Alessandra conseguiu quebrar resistências e contar com a adesão e contribuição dos colegas.
Segundo Alessandra, o trabalho conseguiu comprovar algo em que acreditava: apostar mais nas reuniões de ATPC como espaço de formação continuada dos professores, além de capacitar o próprio coordenador para as atividades pedagógicas. Para isso, ela conta que sempre teve em mente a convicção de que a formação continuada se tornou mais importante que a formação inicial. Se no começo poucos acreditavam em bons resultados, no final perceberam que mudanças e novos desafios são mais que necessários. Também ficou clara a preocupação com a formação humana dos alunos. Na conclusão, ela aponta que as reuniões de ATPC devem sempre estar atreladas à realidade escolar. Assim há oportunidade de relacionar as teorias aos fracassos e sucessos da prática docente.
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